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Greco prende jornalista e professor acusados de extorquir médico

Arimatéia Azevedo e Francisco Barreto foram presos por determinação do juiz Valdemir Ferreira Santos

O jornalista Arimatéia Azevedo reage ao ser levado presop: não sou bandido

O jornalista Arimatéia Azevedo reage ao ser levado presop: não sou bandido Foto: Reprodução

Por determinação do juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos, o empresário, jornalista e colunista Arimatéia Azevedo, dono do Portal AZ, e o professor da Universidade Estadual do Piauí, Francisco de Assis Barreto, foram presos no começo da manhã desta sexta-feira (12) pelo Grupo de Repressão ao Crime Organizado.

O Greco cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão no bairros Todos os Santos, onde mora o jornalista, e Piçarreira, no endereço do professor. Também foram feitas buscas na sede do portal de notícias.

Os dois presos foram levados ao Instituto de Medicina Legal para exame de corpo de delito antes de serem encaminhados à Casa de Custódia.

“Isso é a maior canalhice que já se praticou contra uma pessoa. Eu que denuncio bandido. Eu não sou bandido. Eu sou mais do que inocente, eu combato bandido. Eu jamais recebi esse dinheiro, eu não sei nem do que ele fala. Está comprometendo um velho sério que o professor Barreto. Quem denuncia bandido sou eu há 50 anos", reagiu Ari, ao ser preso em casa.

Segundo os policiais civis, o jornalista é acusado de extorquir um cirurgião plástico. Já o professor Barreto teria intermediado o pagamento de R$ 20 mil pelo “silêncio” do portal.

Arimatéia Azevedo garante que nunca recebeu dinheiro algum e que o médico que o acusou de extorsão é que cometeu um crime ao esquecer uma gaze dentro do corpo de uma paciente durante cirurgia.


Confira a nota da Polícia Civil sobre as prisões:
A Polícia Civil do Estado do Piauí deflagrou operação na manhã desta sexta-feira, 12 de junho, e efetuou a prisão de duas pessoas em Teresina. Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva em desfavor de um jornalista e um professor universitário. Um dos presos está sendo investigado pelo cometimento de crime de extorsão, na forma qualificada, praticado contra um profissional liberal em Teresina. O segundo preso se trata de um professor universitário que prestou auxílio ao jornalista na prática delitiva, agindo como coautor, segundo apontam as investigações.

A operação foi desencadeada pelo Grupo de Repressão ao Crime Organizado, Greco. De acordo com o coordenador do Greco, delegado Tales Gomes, a polícia civil também cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços residenciais dos investigados e no portal de notícias de propriedade de um dos presos.

A empresa de um dos alvos também esta sendo investigada por receber pagamentos indevidos do Estado do Piauí sem possuir regularidade fiscal, usando, para tanto, documentos fabricados. Essa última investigação está a cargo da Delegacia de Combate à Corrupção - DECCOR.

Por conta das medidas de prevenção ao Coronavírus em todo o Piauí, não haverá entrevista coletiva nem atendimento presencial à imprensa.

Relações Públicas da Polícia Civil"

Médico denunciou a extorsão
Segundo o inquérito, em 22 de fevereiro de 2020, um médico foi à sede do GRECO para fazer a denúncia. A vítima prestou depoimento, quando afirmou que em 06 de janeiro Arimatéia Azevedo publicou denúncia no Portal AZ sobre um suposto erro médico cometido durante cirurgia

Um dia depois da reportagem, Francisco Barreto, “interlocutor” de Arimatéia de Azevedo, ligou para a vítima ameaçando novas publicações sobre o caso, o que poderia ser negociado mediante um “acordo financeiro”.

Ainda segundo a  vítima, o próprio jornalista teria entrado em contato para falar sobre um “dossiê” contra o médico, que deveria aceitar o acordo financeiro a fim de que o conteúdo não fosse ao ar.

No dia 08 de janeiro, Barreto teria ligado novamente para a vítima, desta feita para negociar o acordo. Seriam R$ 50 mil, valor que baixou para R$ 20 mil, dividido em duas parcelas, a última delas paga em 21 de janeiro de 2020. As ligações cessaram.

Inquérito do Greco
“No âmbito de investigações em curso aqui no Greco foi detectado o crime de extorsão, que é um crime ação pública incondicionada. Foi determinada a confirmação do que foi levantado acerca dessa extorsão praticada em Teresina e se constatou a prática desse crime por conta de um jornalista, proprietário de um portal de notícia aqui de Teresina, e de um professor da Universidade Estadual. Foi instaurado um inquérito policial pelo delegado Laércio Evangelista para apurar as condutas dessas duas pessoas”, adiantou o coordenador do GRECO, delegado Tales Gomes.

Conversas telefônicas reveladoras
O juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos, explica que a quebra dos sigilos telefônicos de Arimatéia Azevedo e Barreto, autorizadas pela Justiça, permitiu rastrear as conversas que comprovariam a denúncia de extorsão qualificada.

“A interceptação telefônica dos investigados, através da qual foi possível constatar a veracidade dos fatos narrados pela vítima, tendo em vista o cruzamento das ligações entres os investigados e a vítima, indicando que houve uma série de tentativas de negociações prévias, antes que o crime se consumasse, bem como a forma como se deu a consumação deste delito”, afirma o juiz Vademir Ferreira Santos, na decisão.

"Determino que os dados de qualicação pessoal, endereço residencial e prossional da vítima sejam resguardados, bem como que o Portal AZ se abstenha de fazer quaisquer tipo 12/06/2020 Jornalista é preso depois de denunciar profissional liberal em Teresina https://www.portalaz.com.br/noticia/policia/31729/jornalista-e-preso-depois-de-denunciar-profissional-liberal-em-teresina 2/4 de publicação ofensiva à sua pessoa, de modo a evitar que reincidam na mesma conduta criminosa do caso em tela, sob pena de multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por dia de publicação".

Portal AZ não pode se manifestar sobre o caso

"Curiosamente, o jornalista que ajudou a desbaratar o Crime Organizado no Piauí, Arimateia Azevedo, agora se encontra preso na sede do Grupo de Repressão ao Crime Organizado (GRECO), na capital, após publicar em seu portal de notícias PORTAL AZ, uma matéria contendo informações a respeito de um problema ocorrido com o profissional liberal", estampa o Portal  AZ sobre a prisão do jornalista.

"O profissional liberal que acusou o jornalista foi processado na 10ª Vara Cível de Brasília. O caso também foi levado para o Conselho Regional da profissão do acusado. No entanto, até o momento, o Portal AZ está impedido de informar os leitores sobre os fatos", acrescenta a matéria.

Liberdade de expressão

Segundo o portal, vários jornalistas denunciam a ameaça contra a liberdade de expressão. "Nesta sexta-feira, jornalistas que conhecem o legado do jornalista Arimateia Azevedo na luta pela justiça e comprometimento em denunciar todo tipo de ação criminosa no Piauí, se pronunciaram nas redes sociais. O jornalista Zózimo Tavares foi um deles. "Soube que o jornalista Arimatéia Azevedo foi preso agora cedo pelo Greco. Ainda não sei o motivo. Como estamos em meio a uma pandemia, deve ser um caso gravíssimo. O que sei é que ele tem muitos inimigos poderosos e não falta quem queira vê-lo atrás das grades", escreveu Zózimo.

O jornalista Toni Rodrigues se manifestou no Youtube. “Sei que o jornalista Arimateia Azevedo é um dos grandes defensores da liberdade de expressão e um dos grandes combatentes do Crime Organizado nesse estado. Foi ele a primeira pessoa a denunciar o senhor José Viriato Correia Lima ainda em 1987”, lembrou sobre o caso emblemático da prisão do chefe do crime organizado no Piauí, acusado de extorsões e assassinatos. Naquele período Arimateia Azevedo foi perseguido e obrigado a sair de sua residência. Sofreu atentados nos anos 90. Ultimamente, Arimateia Azevedo vem fazendo constantes denúncias"T

Toni Rodrigues postou um vídeo sobre a liberdade de expressão
Fonte: Youtube

Reincidente
O delegado Laércio Evangelista, responsável pelo inquérito, revelou que o jornalista Arimatéia Azevedo foi preso em 2005 também por extorsão. Segundo o delegado , o jornalista responde a outros processos por calúnia, difamação, ameaça, extorsão e falsidade de documento público.

 “O jornalista já foi preso em 2005, usando essa mesma modalidade delitiva de extorsão e, além disso, já responde a diversos outros inquéritos por calúnia, difamação, ameaça e mesmo extorsão. O jornalista será encaminhado para o sistema prisional, há outras investigações em trâmite ainda, inclusive, um inquérito criminal que apura falsidade de documento público, e seguiremos com as investigações a partir do material que foi apreendido em busca de outras formas que levem ao possível indiciamento do jornalista”, adiantou o delegado.

Repercussão nas redes sociais
O presidente nacional do Progressistas, senador Ciro Nogueira, comentou a prisão do jornalista Arimatéia Azevedo nas redes sociais "O mau jornalismo não é jornalismo, é mais crime e desserviço contra a comunidade e contra o próprio jornalismo. O que hoje aconteceu em Teresina mostra bem isso. Também demonstra que não podem durar para sempre ações que conspurcam a honra das pessoas. Outra coisa: há sempre uma resposta da Justiça para quem desinforma e deforma a informação”, escreveu o senador no Twitter.

A deputada federal Margarete Coelho (PP-PI) também se manifestou sobre o fato no Twitter. “O jornalismo tem relevante papel no estado democrático de direito. A informação é um direito da cidadania. Transformar desinformação em mercadoria, mediante métodos que o direito reprova, deve ser apurado pelas instituições democráticas. Extorsão é crime. E merece resposta”, defendeu.

Fonte: Paulo Pincel

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